sábado, 27 de maio de 2023

Pequeno Manifesto Provano

Lembrete para o futuro:

 

Nunca mais

Em hipótese alguma

Amar mulheres crentes.

Elas creem no mundo, em praia, creem em sol

Creem em espetáculos e voos sem pontes aéreas

Creem em bairros nobres e festas cafonas em lugares ainda mais cafonas

Creem no mundo todinho

E só

Para elas o mundo basta.

Amar uma mulher crente é como usar uma camisa de força do avesso

Muito boa para o mergulho.  

Vestígio

 

Li no rotulo de uma esponja esfoliante que metade da poeira que reside em nossas casas são, na verdade, restos de pele morta. Quando você partiu de casa – partiu para voltar duas ou três vez. Voltar para morar em mim até ter a certeza absoluta de que, poderia morar em outro-, eu fiquei quase dois meses sem varrer a casa ou espanar os móveis. 

Seguindo a logica do rotulo da esponja esfoliante: fiquei vivendo com seus restos. Respirando e dormindo sob seus restos. 

Fantasmas são reais e,

 causam rinite.

quarta-feira, 3 de maio de 2023





Quando você chegou eu já estava cansado de pólvora 

e você queria fumar todos os cigarros do mundo

Quando te conheci eu queria visitar o sul, sentir frio. Aquecer meu corpo no teu corpo.

Você queria ir à praia

Tirar foto na praia

ligar por vídeo para seu grupinho na praia

ficar doida na praia

Fumar todos os dias vendo o mar.

Queria tudo desde que não fosse nada(r) comigo.

Quando você partiu, eu fiquei nesse apartamento que parece um forno.

E hoje você pode ir à praia quantas vezes quiser, afinal de contas, nenhum chefe do mundo despede a mulher do amigo 


Fiquei com uma cachorrinha que caga, late e que me ama

 Cachorros vivem em media 9 anos

A idade  que viveu nosso amor

Queria ter filhas com você - fazer filhas em você em um dia frio. Corpo com corpo

Filha de duas patas

Com nome e sobrenome que ainda guardo 

no peito

As meninas que nunca tivemos,

hoje foram morar no interior


quinta-feira, 19 de maio de 2022

Um homem como todos os Outros ou O sono dela que nunca mais terei


 

Nunca mais você me apareceu distraído e acreditando em mim ...


Certa vez li que,

Tudo que a gente ama, um dia precisará de conserto.

Com você sentir na carne, na cama, no erro

Que nem tudo é remediável

 

Perder sua distração

O seu esquecimento, o seu desenho estilo livre

Me doeu quase quanto, da noite pro dia, ganhar seu olhar

atento.

Prestando atenção em tudo

como um animal acuado.

Eu sempre fui muito frágil, fraco, fraquinho da Silva

Nunca pensei um dia provocar medo em alguém.

 

Seu sono sagrado, meu gesto profano

A mancha de porra em minha pele.

A transa que nunca tivemos,

ainda me tira o sono

 

Seu corpo que dizia art.

Agora diz,

Em alto e bom tom:

Não.

Mil vezes não,

Não me distraio mais perto de você!

Não sinto mais tesão!

Não me toque!

Não recoste a cabeça sobre meu prato!

Não!

Não!

Você gritando pela manhã:

Não durmo com o inimigo!


sexta-feira, 15 de março de 2019

Loteria







Veja só como é bonita a tua cama com outro par. (Lupe-de-Lupe)







Impossível traduzir sentimentos no limite estreito da linguagem. A abstração representada por palavras como perplexidade ou angustia, nada dizem do que a carne lamenta. E por mais que você repita a si mesmo que não quer cumprir este papel, é impossível não se flagrar pensando sobre comportamento, porque é inevitável atribuir sentido moral a qualquer ato humano que não seja abrir os olhos pela manhã.
Não consigo nem ao menos conversar com quem tenha o habito de enxergar beleza nas arvores, nos poemas ou ainda na melancolia cinza das cidades grandes.
Ou muito menos com aqueles que nutrem amor incondicional aos velhos e suas passadas curtas nas calçadas de Goiânia.
Com os que param para alimentar cães famintos nas ruas.
Jogam migalhas ao pombos e moedas ao mendigos.
E hoje tu és tudo isto que me enoja e ainda um pouquinho mais.
‘’Ainda bem que existem os feios. No plural. Assim, um dia eles se encontram e nos deixam em paz. A beleza só existe se absoluta. Não se orna ouro com barro’’. Dias atrás, lembrei-me dessa sua frasezinha clichê; e só me restou gargalhar.
Gargalhar baixinho,
com a mão esquerda cobrindo minha boca do jeito que você não gosta.
Nunca gostou.
Mas fingiu gostar por três quase quatro anos. Fingiu gostar na sala, fingiu gostar na cozinha, e sobretudo no quarto. Fingiu igualzinho minha cadelinha fingi bons modos quando quer mais ração.
É engraçado como tudo muda diante de uma noticia, né?
Um simples fato banal. Carnal. Uma única noite?
Duas noites?
Quinze minutos?
Quinze minutos entre um antes e um depois.
Tragédia grega.
Até ontem eu te amava.
Hoje rogo aos céus para que dê positivo.
Peço que sofra.
Mas, infelizmente, não estamos mais em 1981. Hoje tudo melhorou. 10 ou 12 comprimidos por dia bastam para alguns organismos.
Diarreia, sangue, dor de ouvido. Efeitos colaterais que ainda acontecem.
Felizmente.
Fraldas? OH Deus! Eu lhe imploro, fraldas!
Ah, como eu queria vê-lo definhar.
Murchar todinho
Ficar magrinho.
Magrelinho.
Ficar com cara de doente.
A cara da mentira você já tem.
A boca fala do que o coração está cheio.
Hoje entendo suas piadinhas, repentinas, de uma hora para outra. Você tava com medo, não é?
Medinho de morrer rs
Medinho de morrer sabendo que ninguém lembrara de ti. Talvez, lembrem-se do seu sofrimento perante a doença. Dos seus últimos dias de agonia. Cadeira de rodas e hematomas, talvez. 
Mas de ti? Ninguém comentaria.
Sua salvação,
Seu legado no mundo, sua historia, seriam narradas por mim.
Mas você fez questão de matar-me primeiro.
Morto não fala.
Morto não trai.
Morto não mente.
Ai, ai... Que azar hein, Paulinho? Celular sem senha no lugar errado. Mensagem na hora errada. Você tomando banho na hora errada.
Homem-erro. 
 Assim te chamarei a partir de agora.
‘’ O que deu o exame?’’
Foi com ela? Com a mocinha da foto? Aposto que sim. Branquinha com cara de morta.
Branquinha e, talvez neste momento que escrevo, já morta.
Covardizinha que não aceitou morrer só.
Vai levar mais três ou quatro Paulinhos pra cova junto com ela.

Mais feia do que eu.
Muito mais feia do que eu.
Ao menos minha cara é de mulher viva.

Não mistura-se barro com ouro.
A beleza só existe se absoluta.

Posso vê-lo falando as mesmas bostas para a menina-cadáver 
As mesminhas.
O mesminho de sempre.
Primeiro tira a calça.
Beijo e sexo oral.
Depois a camisa.
Rir.
Não consegue levar nada a serio. Nem mesmo uma trepadinha. Uma traiçãozinha de uma noite só. Uma noite só rs
Rir.
Ela rir/ Eu já rir também um dia
Já era.
Se riu é porque pode entrar.
Tá dentro
Tá fora.
Tá dentro.
Tá fora.
Tá duro
Tá mole.
Tá vivo
Tá morto.
Uma noite só.
Um restinho de vida.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016










Viajar é útil, exercita a imaginação. O resto é frustração e esforço. Nossa viajem é imaginaria. E está é a sua forçar.  Vai da vida à morte. Homens, animais, cidades e coisas. É tudo inventado. É livro, ficção.  Litrré disse isso, e ele não erra. E qualquer um pode fazer o mesmo. Vou fechar os olhos e está do outro lado da vida.  (Louis- Ferdinand)






  Somente os tolos acreditam que devemos conjugar matrimonio com aqueles que já amamos, como se o altar  fosse uma especie de atestado do encontro  que tivemos com o que nos traz felicidade, e portanto, celebramos um pequeno porto de segurança em meio aos equívocos. Uma celebração máxima ao fim das incertezas.  Josefa, casou-se comigo na esperança de ser amada.
Casou-se comigo por crer que um dia, outras leriam sua historia de amor, e sobre tudo por imaginar que, estas tais ‘’outras’’ um dia a invejariam. Invejariam a historia que elas mesmas sabiam nunca serem capaz de viver. E Josefa, sendo a esposa de um escritor, poderia ser a única que, estava ali, retratada em palavras, como a mais bela dentre todas as mulheres. A quem lesse meu ‘’novo’’ romance, não restaria duvidas, Josefa era amada por mim. E o amor, seja por meio de um rito de celebração, seja em um texto, só serve para alguma coisa, só é sentido como real, se puder ser visto, fotografado, falado sobre.
Mal poderiam saber que, quem escreve, é por natureza uma espécie de canalha. Um infiel. O escritor é sempre aquele que, tornou-se o que se tornou, somente por ser capaz de amar no plural. Aos leitores cabem a miragem, a força do hábito de acreditar em um amor único, singular, excepcional. Quanto mais verídica a miragem possa parecer ao olhos de quem  vê, quanto menos imperfeições tiverem, por mais hábil deve ser tomado o escritor.  A mulher que é eternizada em qualquer romance é sempre outra. Uma espécie de amante eterna. A cada um cabe a sua Helena.
Nunca voltei a publicar nada após meu casamento. Não fui capaz de escrever uma pequena frase sequer após jurar amor eterno à Josefa. Por mais que todos cobrem mais um livro, e acima de todos, a própria ,a que acredita ser minha inspiração.
Josefa, antes de me amar, me leu.
 Talvez, na verdade, resida neste fato, todo o seu amor por mim. Tal como deve residir na impossibilidade, todo o amor de Julieta por Romeu. Ou na suspeita de traição toda a devoção de Bentinho. É preciso muito mais do que beleza para que, se faça amor. É preciso, antes de corpo, ficção. Antes do beijo na penteadeira, é preciso rabiscar seus nomes no muro dos Pádua. Josefa, nunca deitou-se comigo, mas sim, com o romancista que, ela leu e, diferentemente de todas as outras que tentaram, ela sim, o conquistou. Vê-la descrita em um dos meus livros, como a única amável dentre todas as outras, séria a sua consolidação máxima como amante. Séria a prova irrefutável, aos olhos de todos, que ela é e foi amada.
  Séria para ela o orgasmo que eu nunca fui capaz de lhe proporcionar na cama. É uma pena que assim como um homem que, independente do esforço, nunca será capaz de agradar sexualmente sua mulher, eu também sou brocha com as palavras perante Josefa. Sou como o amante que sempre falha, sempre amolece na presença da esposa, e por isso optar pelo sono, disfarçado de descanso ao sexo. Mas milagrosamente satisfaz a amante. Três ou quatro vezes na semana, com todo o furor virilidade  que, lhe é possível ter. Somente sou capaz de escrever sobre o copo de outra. Outra que não seja Josefa. O meu novo romance é antes de tudo, uma bela traição. E como, quando o assunto é amor, somos sempre moralistas, não deve jamais ser publicado. Todo leitor espera uma amor, seja ele possível de ser vivido pelas personagens ou não, isso não importa. O que importar é que o romance, fale de tudo, menos sobre a verdade. E eu sou o escritor de um livro só. Criei, há anos atrás, ainda em juventude, a minha miragem perfeita.  

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Poema de dissolução

apoiou sua cabeça em meu ombro
E feito passarinho aprumou-s em mim, e dizendo sentir frio, enfiou suas mãos por debaixo de minha blusa verde-limão.
Eu tentei beija-la.
Foi ali na altura da Avenida 85, no ponto de ônibus numero 163,
Onde ela me disse não.

Não, enquanto eu estivesse com a outra.
Não!
             ''aquilo era errado''.
Ela ainda acredita em certo e em errado.

Eu não ligo para a outra
E isso faz ela gostar ainda menos de mim.
Ela cerrar os lábios,
Me encara com o olhar de quem diz ‘’me beija’’, mas vira o rosto e sorrir quando tento fazê-               lo.  
Escorro a língua pela pele de seu rosto,
Deixando-a toda babada
 Ela solta uma gargalhada baixinha. Ela não faz nada alto.
Ela gargalha
 A gargalhada mais bonita e silenciosa que já ouvi na vida.

Eu tento beija-la mais uma vez.
Ela diz não
Fecha o semblante. Fala da outra.
Ela gosta da outra, mais do que gosta de mim.


sexta-feira, 22 de julho de 2016

Vermelho ou o Homem-Animal


''Como explicar que o homem, um animal tão predominantemente construtivo, seja tão apaixonadamente propenso à destruição? Talvez porque seja uma criatura volúvel, de reputação duvidosa. Ou ainda talvez porque seu único proposito na vida, seja perseguir um objetivo. Algo que ao final, ao ser atingido, não é mais vida, mas o principio da morte''- Dostoiévski 

 

Como o mais baixo dos animais irracionais, o homem, ao sentir-se ameaçado, ou ameaçará de volta ou fugirá de seu predador. Seja como for, é de se esperar que, seja da natureza humana, ser covarde ou violento para com aquilo que lhe provoque medo.
Em uma situação extrema, onde deva escolher entre matar ou ser morto, o homem sempre escolherá matar.  É muito mais fácil carregar culpa do que aceitar de bom grado a finitude. Não somos diferentes do animal selvagem que destroça seu semelhante por comida ou por sexo. A única diferença é que destruímos por futilidades. Mentimos e engamos por diversão.  Chamamos sexo por amor e matamos em nome de ‘’ algo maior’’, mais digno, que combina melhor com a suposta natureza elevada do ser humano. Com isso é como se apaziguássemos o mais animalesco de nossa ação e nos tranquilizássemos frente ao horror do selvagem que ainda nos habita. Como se não matássemos simplesmente por algo ou alguém ameaçar nossa satisfação, seja ela de qual ordem for.
Não existem homens mais elevados do que outros. Não há, por exemplo, aqueles que sabem resolver seus conflitos de forma educada, de dita forma ’humana’’. O que há, são aqueles que não foram ameaçados ou humilhados o suficiente para reagirem. O suficiente para despertar o animal que neles vivem. Todo homem é em si, um monstro em potencial.
E eu, seu marido, sou antes de qualquer coisa, homem.
Pena que você tenha descoberto isso tarde demais.
Antes de fazer, antes de cometer o meu ato grotesco, eu quis, eu me esforcei, para te falar sobre ela. Para sentarmos e resolvemos tudo como dois adultos. Mas não havia palavras para descrê-la. Ela é indescritível. Disso eu soube desde quando a vi primeira vez. Soube que, ela era a própria reencarnação do diabo em pessoa. Sempre pensei o diabo como uma mulher, o que eu não sabia, o que eu não podia saber, era que o diabo era branco, ruivo e de olhar viciante. O diabo veio até mim, deitou-se em minha cama. Mas, eu cavei sozinho minha cova até o inferno. Cavei com minhas próprias mãos. Mãos que hoje não estão sujas com barro, mas sim, com sangue. O demônio não leva ninguém para o inferno, ele apenas mostra o caminho.

O diabo é uma invenção do homem.
A tentação é uma invenção do diabo.
A morte é uma criação de Deus.

Você sempre foi tão linda, tão meiga, tão tudo para mim.
Não pense que não lhe amai. Se fiz o que fiz, sobretudo foi por ama-la. O homem que ama, mata.
A ironia é invenção da mulher.
Ninguém termina um romance ou deixa para trás um amor que ainda vive.  Somente a morte pode separar dois amantes.  Há aqueles que carregam uma facilidade maior em dizer ‘’adeus’’, mas esses nunca amaram de verdade. O amor é absoluto, como um bloco indestrutível, que não se dissolve a mera possibilidade de um adeus. A morte é o único fim possível e inquestionável quando se ama.
Fomos como Romeu e Julieta. A única diferença é que não matei minha amada por engano.  Não morri por ela, ao contrario, sua morte foi necessária para que eu vivesse.

Todos juntos inventaram Shakespeare.

A Vitima


Quando apoiava minha cabeça contra o teu peito, ao deitarmos juntos (na cama que nesta noite tornou-se minha lápide), e delicadamente envolvia meu corpo em teus braços, sentia-me como dentro do lugar mais seguro do mundo. Os teus braços eram a minha morada. Mal nenhum poderia me ocorrer enquanto seu corpo recobrisse o meu. Mas, como um Judas que trai com o mais gentil gesto de afeto, você me apunha-la com a mesma mão que acariciava-me há pouco.
A morte é irônica.
A dor provocada pela lâmina perfurando minha carne foi feito gelo que ironicamente queima ao tocar diretamente sobre a pele, e machuca mesmo sem necessariamente doer.  O sangue que me causou tanta vergonha quando sujei teu lençol, ao deitamos juntos pela primeira vez, agora escorrer livremente de meu corpo.  Vejo teu rosto e em um piscar de olhos, finto também tuas mãos tremulas. Enquanto como quem sente uma cólica insuportável e contorcendo-se de dor toma uma posição fetal, vejo, em flashes desconexos, formar em teu semblante uma expressão de choro e desespero, sinto o sangue, ainda quente, empoçando-se ao redor de minhas pernas. Não sinto vergonha desta vez. Sinto frio. Muito frio.
Você tampa minha boca como quando fazemos amor. Seus braços fortes surgem por detrás de minha nuca, sua mão pesada, arrancando um ou dois fios de cabelos que sempre ficam presos entre deus dedos, sufocando minha respiração e abafando meus gritos. Tal qual quando abafa meus gemidos, tua mão recai sobre minha boca. Você treme. Você sempre treme. O espelho a minha frente transmite sua expressão de dor, a mesma expressão que faz quando goza dentro de mim. A dor e o prazer devem ser como primos distantes. Sua respiração pesada. Lenta. Quente. Seu corpo perdendo força, soltando o meu aos poucos, denuncia que você terminou. Seu corpo recuando ao meu, denuncia que você alcançou seu objetivo.
Sinto a lamina saindo. Sinto você caindo ao meu lado, não sei se vejo ou penso vê, você levando sua mão até seu rosto, o que de fato sei é que tua barba estar manchada de vermelho. Manchada com o meu vermelho. De repente não vejo mais nada, tudo se torna escuridão. Não dói mais, na verdade, me sinto tão aconchegada como se estive dentro de um de teus abraços.
A primeira vez que transamos eu sentir frio e vergonha.
Hoje. No dia de minha morte, sinto somente frio.

A Amante


- Você precisa escolher... Eu me divirto com você, eu.. eu chego a pensar que te amo. Mas isso que fazemos é errado!
- Eu tenho um plano... Tudo vai se resolver... Vou falar com ela. Eu só preciso de um pouquinho a mais de tempo.
- Um pouquinho a mais de tempo?! Não! Não! Você precisa se decidir! Precisa ser logo! Precisa ser hoje! Eu não aguento mais!  Alias, ela já deve saber, já deve desconfiar. Não é possível que ela não sinta o meu cheiro em você! Eu sinto o cheiro dela em você! Eu sinto a porra do cheiro dela em você!
- Mas... Não.. Sem choro...

- Pelo amor de Deus! Seja homem! Faça algo! E faça hoje! 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Bruna ou Não Toque em mim com esta pele que veste teu corpo



É requinte de saciados testar a virtude de terceiros (Raduan Nassar) 
‘’Se ela me chamar... Agora... Eu vou... ’’ (Zii e Zie)

Como todas as coisas banais que, de repente, tornam-se muito mais do que serias em nossas vidas, Bruna também começou como uma brincadeira, como uma molecagem, como um desses acontecimentos que julgamos nunca chegar há lugar algum e, como que uma tose seca, negligenciada, torna-se da ‘’noite para o dia’’, em uma doença maior. Bruna foi uma traiçãozinha destas à toa que, todo homem ou comete, ou deixa de cometer por pura covardia ou receio de ser descoberto, mas nunca por falta de vontade ou menos ainda oportunidade.
Mas antes de Bruna, Fernanda.
A primeira mulher. Não a primeira que amei, mas sim, a primeira a ensinar-me quase tudo sobre como amar uma mulher. Um fascínio.
Como um aluno que se vê encantado pela professora, eu via-me absorvido pela destreza de Fernanda em fazer tão bem e tão desinibidamente, aquilo que eu apenas estava começando a praticar de modo quase que instintivo. Esta mais velha, mais inteligente, muito mais segura de si do que ele mesmo (o aluno) jamais sonhou em ser algum dia, e que em algum momento, em alguma aula, larga um elogio ou um sorriso acompanhado de um olhar ao mesmo tempo gentil e malicioso que arrebata o adolescente no auge de suas efervescências. Este não tardará em relembrar a cena em seu quarto, ou durante um banho um pouco mais estendido do que o de costume. A cena repete-se. O ato repete-se.  Mas tudo fica velado, nada é dito, nada é tocado. Ele sabe que deseja a professora mais do que tudo na vida, e a professora sabe que ele a deseja mais do que tudo na vida. E isto estabelece o jogo. O fascínio. O arrebatamento do adolescente, que como qualquer virgem ao experimentar pela primeira vez os prazeres do corpo, se vicia. Corrompe-se.
Que fique claro: Nunca amei Fernanda. Mas sempre serei capaz de jurar para qualquer um, até para eu mesmo, que ela era, e que sempre seria meu primeiro e único amor. Como o aluno que sorrir da piada sem graça do professor, por precisar de nota, eu jurava amores à Fernanda por precisar de seu corpo.
Ninguém deveria ser responsável pelos amores que jura aos 17 anos
Ou, em idade alguma.                                   
Amor não casa bem com juramentos, ainda mais se estes flertarem com a eternidade.

Bruna, começou como uma coisa à toa.
Um joguinho eletrônico casual, que se tornou
Cotidiano.
Um ‘’oi’’ aleatoriamente enviado pelo facebook para uma menina bonita o suficiente para parecer-me minimamente interessante (somente um tolo, um completo idiota, não julgar pela aparência. É o que diz o livro aberto a minha frente. Eu acredito em livros).
Um ‘’oi’’ correspondido.
Todos os dias, minhas manhãs só começavam realmente quando digitava um ‘’bom dia’’ seguido de um emotion de carinha feliz e enviava à Bruna. Um ritual como café e cigarros antes de escovar os dentes.
Bruna nunca tardava em responder. Sempre on-line.
Nos recheios de meus dias, sobrava tempo e pique para todo tipo de assunto entre eu e ela. Desde aqueles mais sérios, aos extremamente banais. Dos íntimos aos mais íntimos ainda.
Sobre isso e sobre nós, nunca nos cansamos.
E como que em uma balança antiga, onde para um lado subir é preciso que o outro desça, enquanto o meu interesse por Bruna inclinava para cima a cada conversa, a cada emotion de carinha feliz enviado por ela, como que em uma gangorra, o meu encanto (antes, estático), por Fernanda, perdia forças. Caia.
A menina da tela, a menina que eu nem sequer imagino qual seja o tom de voz, o cheiro, o gosto, as manias, consegue fazer-se, insinua-se, como sendo muito mais interessante do que a mulher que tenho em minha cama todos os dias e que conheço tão bem.


Há sempre música tocando quando teclo com Bruna.
Ela não tem voz, é preciso que eu lhe dê uma.
Gal. Rita. Baby. Céu. Cae. Gil. Roberto.
Bruna tem voz bonita.
Bruna tem a voz que eu sempre quero escutar.
Ouço as frases das musicas, e com isso é quase como se escutasse o que ela pensa sobre mim e não tem coragem de digitar. Ela digita uma coisa, mas pensa outra. Ela não tem coragem de me falar o que sente ou que pensa, ela não tem coragem de falar a verdade. Ela não tem gosto, nem cheiro, mas mente como todas as outras.
‘’Ainda há fogo em mim/ Quisera sempre assim’’. Hoje é isso que Bruna pensa. Hoje é isso que a canção diz
Hoje ela sente calor.
Sente vontade.
Hoje Bruna deseja um homem de carne e osso. Talvez ela goste mais de carne do que de osso... Todas gostam mais de carne do que de osso. Eu sou puro osso.
Hoje eu não sirvo pra nada.



Não há mais Fernanda.
Ela se foi.
Aconteceu ontem ou hoje. Não sei. Não me importo. Não há mais nada que ela possa ensinar.
Desde que tenha a tela. Desde que tenha Bruna.
Tudo certo!

- Bom dia (emotion de carinha feliz)
Bruna não responde.
Ainda deve tá dormindo, penso.
Abro a janela. O cheiro da rua é ruim.
Acendo cigarro. O gosto em minha boca agora é ainda mais amargo.
Coloco música. A canção diz, ‘’Quando você voltar/ Já me encontrará refeita’’.

Hoje bruna acordou ressentida.
Deve haver um homem antes de mim em sua vida. Um de verdade. Com mais carne do que osso. Do jeito que elas gostam. E cabelo arrumadinho. Meu cabelo é cabelo de preto. Não fica arrumadinho.
Hoje, mais uma vez, ela não vai falar comigo.
Amanhã é outro dia.
Espero que hoje termine logo.

 Durmo.
Acordo.
Olho pela janela aberta do quarto, ainda é dia.
Hoje ainda é hoje.

Visualizado às 14:41.
Coloco outra canção:
‘’O retrato que eu te dei, se ainda tens, não sei... Mas se tiver, por favor: devolva-me’’
O caso é mais sério do que tinha imaginado.
Há mesmo outro homem. E Bruna ainda o ama.
Ainda se dói pensando nele.
Hoje não vai ter jeito
Ela não vai falar comigo.
Hoje ela quer as cartas de volta. Hoje ela quer uma desculpa para vê-lo uma vez mais.
Desligo a tela
O sono não vem. Hoje vai ser foda.
Amanhece.
Parece que eu dormi um pouco
Não sei.
Só sei que hoje já é amanhã.

‘’Bom dia’’ (emotion de carinha feliz’’), Bruna esta digitando
Como vai? (emotion de carinha de sono)
‘’E teve um negocio de você perguntar sobre o meu signo’’
 Ontem foi um mal entendido.
Nunca houve homem algum. Foi tudo coisa da minha cabeça.
Ontem a canção errou.
Abro a janela: hoje a rua não fede.
Hoje Bruna falou comigo.

Ela volta.
Ela entra de repente e para bem atrás de mim.
Vê eu e Bruna conversando.
Ela vê a foto.
Ela finta minhas mãos dentro da calça.
Ela diz que Bruna é uma vagabunda. Uma piranha. Uma putinha.
Ela grita.
Ela grita que é por isso que eu não dou conta! Que é por isso que eu não funciono!
Ela bate na minha cara.
Ela diz que o quarto cheira a mijo.
Assim como ela entrou, ela sai
 de repente.

‘’A tua presença entra pelos sete buracos da minha cabeça: Pelos olhos, bocas, narinas e orelhas’’
Hoje eu e Bruna transamos pela primeira vez.
Hoje eu apenhei na cara e gozei na tela.

‘’Toda palavra, sim, é uma semente; entre as coisas humanas que podem nos assombrar, vem à força do verbo em primeiro lugar’’. Hoje o livro em minha escrivaninha é outro, eu também acredito nesse.

Bruna? (emotion com carinha de cachorro com linguinha de fora. É isso que sou hoje, bruna é a dona)
Hoje a musica é em inglês. Hoje eu não entendo nada.
Pode ser qualquer coisa.
Hoje tudo pode acontecer.

Bruna enviou uma foto.
Hoje nem bom dia teve.
Enfio as mãos nas calças.
Hoje tranquei as portas.
Hoje a outra não entra.


Abro os olhos.
Meu pescoço doe e minha boca amarga.
Tudo tá escuro. A luz que deveria emanar de meu monitor, não emana.
Saio de casa.
Vou comer na rua.
Sem eletricidade nem meu fogão acende.

A moça do balcão sorrir para mim.
Ela diz alguma coisa que não entendo.
Ela tem a voz feia. Ela não tem a voz que quero ouvir.
Pago e saio. Ou apenas saio, não lembro.
Olho pra trás.
Ela mexe a boca olhando e gesticulando em minha direção, eu não escuto nada.  Corro!

Como paquerar no facebook?
É o que está escrito na capa colorida da revista bem ao lado da revista dos signos. De signo eu não gosto.
Compro um maço de cigarros e a revista.
Leio tudo.
Fumo tudo.
‘’Se deseja ter sucesso nas paqueras virtuais, é importante não demonstrar desespero. É preciso ter calma e respeitar o tempo do outro. Por exemplo: se o crush demora muito a responder, talvez ele não esteja tão interessado assim em você. Encher a caixa de entrega dele, não ira resolver nada. Você só estará demonstrando o quanto estar desesperada por atenção’’.

Eu acredito em livros. E agora percebo que também acredito em revistas.
Eu acredito em Bruna.
Eu acredito em tudo que as pessoas escrevem.

Volto pra casa.
‘’Deseja continuar o Windows normalmente?’’, me pergunta a tela?
Sim.
Desejo continuar normalmente.

Oi? (emotion de carinha feliz), 10h11min
Tá ai? 11h02min
Foto enviada, 11h13min
Emotion de carinha triste, enviada às 11h16min

Bruna está desesperada.
Se ela lesse mais, não estaria assim.
Respondo.
Ela escreve algo que eu não queria ler nunca.
Ela quer me conhecer.
Quer saber se sou de verdade. Se sou igual à foto.
Digo que sou igualzinho a foto.
Ela não acredita.
Ela é dessas que precisa ver para crer.

Vê é tudo que ela não pode.
Se ela me vê, vai querer falar comigo.
E certamente deve ter a voz feia.
Depois disso virão os beijos, longos e molhados. Do jeito que eu não gosto.
Depois vai querer vim até minha casa. Elas sempre querem vim até a minha casa.
Vai descobrir que meu quarto cheira a mijo.
Vai descobrir que eu não dou conta.
Vai ficar chateada.
Brava comigo.
Vai  bater na minha cara.
Uma vez eu apanhei na cara.
Não gostei.
Depois ela vai embora.
E eu fico.
Sozinho.

Acendo cigarro.
Hoje a musica diz, ‘’Encontrei nos braços de outra a felicidade’’
Hoje eu entendo o recado.
Tem certeza que deseja excluir Bruna N. de sua lista de contatos? (Após excluir você e Bruna N. não serão mais amigos no facebook).
Clico em tenho certeza.


‘’O amor quase nunca é reciproco.’’ É o que diz o livro aberto a minha frente.





quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Três Atos de fel


‘’Bom é descobrir que eu sou só’’ (Sofia Freire)





Primeiro Ato: Repetição

Olhando para o teto espelhado do quarto, com o corpo coberto até a altura do umbigo por um lençol cor de sujeira, que saber-se lá Deus quando foi lavado pela última vez, respirando tão mansamente que sua presença se fazia quase que imperceptível, como um cadáver semi-nu e de olhos abertos. Com uma expressão de assustado a tomar-lhe o semblante, como a expressão de uma criança que acabara de descobrir o que é a morte, através da perda de seu animalzinho de estimação e sem saber como reagir, sem entender o que acabara de acontecer, simplesmente fica paralisada contemplando o pequeno corpo sem vida do animal. Encarando seu reflexo que o encarava de volta, lá do alto, como que o sentenciando, julgando-o pelo mais antigo dos crimes. 
Corpo suado, melado. 
Separado do meu por uma poça branca e ainda molhada, talvez até mesmo ainda quente, bem localizada ao centro da cama.
Eu nua, mergulhada no silêncio típico daqueles que cometem um crime premeditado, e que pego em ato, não rebatem as acusações ou nem ao menos ousam clamar por perdão.
- Eu sair de casa, peguei um ônibus e vim para o motel. E agora eu tô apaixonado... O que há de errado nisso?! Eu me sinto sujo... Eu não... Eu não deveria me sentir assim, afinal amor é amor... Ninguém deveria se sentir culpado por amar... Eu.. Eu nunca fiz algo assim... Você... Você já vez algo assim antes? – Ele indaga sem sequer virar o rosto em minha direção. 

- Já – Respondi, pondo-me em pé, procurando minha blusa.

-Aonde você vai? – Sem tirar os olhos do teto.

- Fazer isso de novo. 



Ato Segundo: Dias Felizes

Éramos os mais absolutamente normais. Em nós nada de especial, nada de incomum. E como qualquer ser normal, inventávamos nossa própria epopeiacriávamos nossa magnífica historia de amor que certamente era mais dramática e muito mais improvável do que qualquer outra historia de amor já antes inventada. Eu era a depressiva, a leitora de Clarice e de Raduan Nassar, a que ouvia Caetano e que chorava no cinema. Você o homem forte, que entendia de política, leitor dos clássicos ociosos, cheios de um vazio existencial que você se esforçava para ser o seu charme, e que eu fingia ser o meu fetiche. Fumante, poeta, civilizado. Tudo aquilo que eu não era e que você jurou no momento em que nos beijamos, que um dia me ensinaria a ser. Mas o que você não sabia, não poderia saber, é que eu não queria ser nada além do que ser como que um contrapeso na balança. Ser sua Capitu nesta sua fantasia de ser um homem. Não precisávamos de Escobar, você tinha Hesser, Salinger, os filmes de Brunel e toda aquela palhaçada francesa que te ensinava a ser o intelectual que, em sua opinião, toda mulher amava.
Você foi meu primeiro homem. Eu acreditava ser minha obrigação ser tudo aquilo que lhe faltava. Ser Dulcinéa incansável e impossível. Ser Madeleine culta e sacana. Ser Galateia fecunda e irresistível, moldada por suas próprias mãos para outros homens admirar. E para além de tudo, obviamente, ser a mais bonita. Não me importava em ser tudo isso, em fingir ser para você o que você quisesse que eu fosse.
Você ensinou-me a ser sua também na cama, do jeito que queria e quando queria. Nunca havia sido de ninguém, não sabia o que devia ou não fazer. Era aquilo. Ser sua me bastava. Eu era feliz. 



Terceiro Ato: Pequeno Príncipe  

Você não tinha o direito, sabia?
Odiávamos a frase ‘’eternamente responsável por aquilo que cativas’’... Mas aquilo era a mais pura verdade!  Você não tinha o direito de me deixar! Não porque você fosse meu, não era isso. Era o contrario... Você não tinha o direito de me deixar porque eu era sua.
Você era meu autor. Meu escultor. Era você quem me dirigia na vida...
Naquele dia de janeiro em que você escreveu seu nome em minha coxa, era isso que significava, era isso que o seu nome em meu corpo queria dizer, que eu era propriedade sua. Sua responsabilidade.
Você é como uma criança má, uma daquelas que não basta largar de lado o brinquedo velho, é preciso quebrá-lo antes de abrir um novo.
Cresci, me fiz mulher. Aprendi para que serve cada buraco que tenho em meu corpo, aprendi que posso mudar a cor do cabelo, posso fazer caras e bocas. Sei do vestido, da saia e da nudez. Sei do que pensam sobre mim e não têm a coragem de falar quando olham-me na rua. Sei da Santa e sei da puta.
Você me ensinou.
Você regava-me diariamente com doses proustianas, carnavalescas, com o meu primeiro porre e, demonstrando em mim tudo que é parte em que se pode deixar de ser virgem. Cresci em sua cama, afundei minhas raízes em teu lençol. Pensei ser a única rosa desse planeta... E era! O que não sabia é que o mundo, este mundo aqui de 4 metros quadrados, ficou pequeno para você. Você queria visitar outros lugares, sentir outros gostos, cheiros. Eu fiquei. Com fome, frio, sede. Você foi e eu fiquei.
Dor.
Como o cão doente que inexplicavelmente pré-sente sua própria morte, e deita-se aos pés da cama de seu dono, eu continuava a sua espera. O tempo não era mais o mesmo, o tic-tac do relógio não marcava os segundos como antes, não dizia sobre o futuro... Não dizia a hora de você chegar. Sem você nada me despertava vontade. Sem você tudo parou...
Eu não era como o doente terminal que tendo os dias que lhe restam de vida marcados no calendário, começa a perceber a beleza da vida em cada pequeno canto, ou a sentir a presença de Deus em cada minúsculo detalhe. Não, eu não tinha a data de minha morte circulada em vermelho no calendário, eu não morreria tão em breve, disso eu tinha a mais plena certeza. Esse foi meu castigo. Covarde demais para matar-me e certa da impossibilidade de sua volta, estar viva ser tornou o pior sofrimento possível. Isso você não me ensinou: morrer.
É isso que você aprende com a solidão, que ela machuca, mas não mata. Você aprende que o mais importante, o mais crucial, não é amar, é está vivo. Aprende a comer sem sentir o sabor do alimento, a sorrir sem estar verdadeiramente feliz, a acorda cedinho e ir trabalhar, mesmo morrendo de vontade de continuar dormindo. Aprende que nem sempre é preciso chorar no final do filme.
Como um enfermo que passa dias sobre o leito de um hospital, sentir dor ao tentar caminhar novamente. Chorei e gritei de dor. Cada passo era como se um músculo em minha perna se rasgasse... Cair, Cair, Cair, Cair... Mas hoje, vestindo minhas calças e saindo sem me despedir do homem que continua a olhar o teto como um cego que vê pela primeira vez as estrelas, caminhando sozinha até saída desde pequeno motel, hoje sei, estou curada.
Não há mais nada a aprender.