Viajar
é útil, exercita a imaginação. O resto é frustração e esforço. Nossa viajem é
imaginaria. E está é a sua forçar. Vai
da vida à morte. Homens, animais, cidades e coisas. É tudo inventado. É livro,
ficção. Litrré disse isso, e ele não
erra. E qualquer um pode fazer o mesmo. Vou fechar os olhos e está do outro
lado da vida. (Louis- Ferdinand)
Somente os tolos
acreditam que devemos conjugar matrimonio com aqueles que já amamos, como se o
altar fosse uma especie de atestado do encontro que tivemos com o que nos traz felicidade, e
portanto, celebramos um pequeno porto de segurança em meio aos equívocos. Uma
celebração máxima ao fim das incertezas. Josefa, casou-se comigo na esperança de ser amada.
Casou-se comigo por crer que um dia, outras leriam sua historia
de amor, e sobre tudo por imaginar que, estas tais ‘’outras’’ um dia a
invejariam. Invejariam a historia que elas mesmas sabiam nunca serem capaz de
viver. E Josefa, sendo a esposa de um escritor, poderia ser a única que, estava
ali, retratada em palavras, como a mais bela dentre todas as mulheres. A quem
lesse meu ‘’novo’’ romance, não restaria duvidas, Josefa era amada por mim. E o
amor, seja por meio de um rito de celebração, seja em um texto, só serve para
alguma coisa, só é sentido como real, se puder ser visto, fotografado, falado
sobre.
Mal poderiam saber que, quem escreve, é por natureza uma espécie de
canalha. Um infiel. O escritor é sempre aquele que, tornou-se o que se tornou,
somente por ser capaz de amar no plural. Aos leitores cabem a miragem, a força
do hábito de acreditar em um amor único, singular, excepcional. Quanto mais
verídica a miragem possa parecer ao olhos de quem vê, quanto menos imperfeições tiverem, por mais hábil deve ser tomado o escritor. A mulher
que é eternizada em qualquer romance é sempre outra. Uma espécie de amante
eterna. A cada um cabe a sua Helena.
Nunca voltei a publicar nada após meu casamento. Não fui capaz de
escrever uma pequena frase sequer após jurar amor eterno à Josefa. Por mais que
todos cobrem mais um livro, e acima de todos, a própria ,a que acredita ser
minha inspiração.
Josefa, antes de me amar, me leu.
Talvez, na verdade, resida neste fato, todo o seu amor por mim.
Tal como deve residir na impossibilidade, todo o amor de Julieta por Romeu. Ou
na suspeita de traição toda a devoção de Bentinho. É preciso muito mais do que
beleza para que, se faça amor. É preciso, antes de corpo, ficção. Antes do
beijo na penteadeira, é preciso rabiscar seus nomes no muro dos Pádua. Josefa,
nunca deitou-se comigo, mas sim, com o romancista que, ela leu e,
diferentemente de todas as outras que tentaram, ela sim, o conquistou. Vê-la
descrita em um dos meus livros, como a única amável dentre todas as outras,
séria a sua consolidação máxima como amante. Séria a prova irrefutável,
aos olhos de todos, que ela é e foi amada.
Séria para ela o orgasmo que eu nunca fui capaz de lhe
proporcionar na cama. É uma pena que assim como um homem que, independente do
esforço, nunca será capaz de agradar sexualmente sua mulher, eu também sou
brocha com as palavras perante Josefa. Sou como o amante que sempre falha,
sempre amolece na presença da esposa, e por isso optar pelo sono, disfarçado de
descanso ao sexo. Mas milagrosamente satisfaz a amante. Três ou quatro vezes na
semana, com todo o furor e virilidade que, lhe é possível ter. Somente sou capaz de escrever sobre o
copo de outra. Outra que não seja Josefa. O meu novo romance é antes de tudo,
uma bela traição. E como, quando o assunto é amor, somos sempre moralistas, não
deve jamais ser publicado. Todo leitor espera uma amor, seja ele possível de ser vivido pelas personagens ou não, isso não importa. O que importar é que o romance, fale de tudo, menos sobre a verdade. E eu sou o escritor de um livro só. Criei, há anos atrás, ainda em juventude, a minha miragem perfeita.
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