quinta-feira, 29 de dezembro de 2016










Viajar é útil, exercita a imaginação. O resto é frustração e esforço. Nossa viajem é imaginaria. E está é a sua forçar.  Vai da vida à morte. Homens, animais, cidades e coisas. É tudo inventado. É livro, ficção.  Litrré disse isso, e ele não erra. E qualquer um pode fazer o mesmo. Vou fechar os olhos e está do outro lado da vida.  (Louis- Ferdinand)






  Somente os tolos acreditam que devemos conjugar matrimonio com aqueles que já amamos, como se o altar  fosse uma especie de atestado do encontro  que tivemos com o que nos traz felicidade, e portanto, celebramos um pequeno porto de segurança em meio aos equívocos. Uma celebração máxima ao fim das incertezas.  Josefa, casou-se comigo na esperança de ser amada.
Casou-se comigo por crer que um dia, outras leriam sua historia de amor, e sobre tudo por imaginar que, estas tais ‘’outras’’ um dia a invejariam. Invejariam a historia que elas mesmas sabiam nunca serem capaz de viver. E Josefa, sendo a esposa de um escritor, poderia ser a única que, estava ali, retratada em palavras, como a mais bela dentre todas as mulheres. A quem lesse meu ‘’novo’’ romance, não restaria duvidas, Josefa era amada por mim. E o amor, seja por meio de um rito de celebração, seja em um texto, só serve para alguma coisa, só é sentido como real, se puder ser visto, fotografado, falado sobre.
Mal poderiam saber que, quem escreve, é por natureza uma espécie de canalha. Um infiel. O escritor é sempre aquele que, tornou-se o que se tornou, somente por ser capaz de amar no plural. Aos leitores cabem a miragem, a força do hábito de acreditar em um amor único, singular, excepcional. Quanto mais verídica a miragem possa parecer ao olhos de quem  vê, quanto menos imperfeições tiverem, por mais hábil deve ser tomado o escritor.  A mulher que é eternizada em qualquer romance é sempre outra. Uma espécie de amante eterna. A cada um cabe a sua Helena.
Nunca voltei a publicar nada após meu casamento. Não fui capaz de escrever uma pequena frase sequer após jurar amor eterno à Josefa. Por mais que todos cobrem mais um livro, e acima de todos, a própria ,a que acredita ser minha inspiração.
Josefa, antes de me amar, me leu.
 Talvez, na verdade, resida neste fato, todo o seu amor por mim. Tal como deve residir na impossibilidade, todo o amor de Julieta por Romeu. Ou na suspeita de traição toda a devoção de Bentinho. É preciso muito mais do que beleza para que, se faça amor. É preciso, antes de corpo, ficção. Antes do beijo na penteadeira, é preciso rabiscar seus nomes no muro dos Pádua. Josefa, nunca deitou-se comigo, mas sim, com o romancista que, ela leu e, diferentemente de todas as outras que tentaram, ela sim, o conquistou. Vê-la descrita em um dos meus livros, como a única amável dentre todas as outras, séria a sua consolidação máxima como amante. Séria a prova irrefutável, aos olhos de todos, que ela é e foi amada.
  Séria para ela o orgasmo que eu nunca fui capaz de lhe proporcionar na cama. É uma pena que assim como um homem que, independente do esforço, nunca será capaz de agradar sexualmente sua mulher, eu também sou brocha com as palavras perante Josefa. Sou como o amante que sempre falha, sempre amolece na presença da esposa, e por isso optar pelo sono, disfarçado de descanso ao sexo. Mas milagrosamente satisfaz a amante. Três ou quatro vezes na semana, com todo o furor virilidade  que, lhe é possível ter. Somente sou capaz de escrever sobre o copo de outra. Outra que não seja Josefa. O meu novo romance é antes de tudo, uma bela traição. E como, quando o assunto é amor, somos sempre moralistas, não deve jamais ser publicado. Todo leitor espera uma amor, seja ele possível de ser vivido pelas personagens ou não, isso não importa. O que importar é que o romance, fale de tudo, menos sobre a verdade. E eu sou o escritor de um livro só. Criei, há anos atrás, ainda em juventude, a minha miragem perfeita.  

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