sexta-feira, 15 de março de 2019

Loteria







Veja só como é bonita a tua cama com outro par. (Lupe-de-Lupe)







Impossível traduzir sentimentos no limite estreito da linguagem. A abstração representada por palavras como perplexidade ou angustia, nada dizem do que a carne lamenta. E por mais que você repita a si mesmo que não quer cumprir este papel, é impossível não se flagrar pensando sobre comportamento, porque é inevitável atribuir sentido moral a qualquer ato humano que não seja abrir os olhos pela manhã.
Não consigo nem ao menos conversar com quem tenha o habito de enxergar beleza nas arvores, nos poemas ou ainda na melancolia cinza das cidades grandes.
Ou muito menos com aqueles que nutrem amor incondicional aos velhos e suas passadas curtas nas calçadas de Goiânia.
Com os que param para alimentar cães famintos nas ruas.
Jogam migalhas ao pombos e moedas ao mendigos.
E hoje tu és tudo isto que me enoja e ainda um pouquinho mais.
‘’Ainda bem que existem os feios. No plural. Assim, um dia eles se encontram e nos deixam em paz. A beleza só existe se absoluta. Não se orna ouro com barro’’. Dias atrás, lembrei-me dessa sua frasezinha clichê; e só me restou gargalhar.
Gargalhar baixinho,
com a mão esquerda cobrindo minha boca do jeito que você não gosta.
Nunca gostou.
Mas fingiu gostar por três quase quatro anos. Fingiu gostar na sala, fingiu gostar na cozinha, e sobretudo no quarto. Fingiu igualzinho minha cadelinha fingi bons modos quando quer mais ração.
É engraçado como tudo muda diante de uma noticia, né?
Um simples fato banal. Carnal. Uma única noite?
Duas noites?
Quinze minutos?
Quinze minutos entre um antes e um depois.
Tragédia grega.
Até ontem eu te amava.
Hoje rogo aos céus para que dê positivo.
Peço que sofra.
Mas, infelizmente, não estamos mais em 1981. Hoje tudo melhorou. 10 ou 12 comprimidos por dia bastam para alguns organismos.
Diarreia, sangue, dor de ouvido. Efeitos colaterais que ainda acontecem.
Felizmente.
Fraldas? OH Deus! Eu lhe imploro, fraldas!
Ah, como eu queria vê-lo definhar.
Murchar todinho
Ficar magrinho.
Magrelinho.
Ficar com cara de doente.
A cara da mentira você já tem.
A boca fala do que o coração está cheio.
Hoje entendo suas piadinhas, repentinas, de uma hora para outra. Você tava com medo, não é?
Medinho de morrer rs
Medinho de morrer sabendo que ninguém lembrara de ti. Talvez, lembrem-se do seu sofrimento perante a doença. Dos seus últimos dias de agonia. Cadeira de rodas e hematomas, talvez. 
Mas de ti? Ninguém comentaria.
Sua salvação,
Seu legado no mundo, sua historia, seriam narradas por mim.
Mas você fez questão de matar-me primeiro.
Morto não fala.
Morto não trai.
Morto não mente.
Ai, ai... Que azar hein, Paulinho? Celular sem senha no lugar errado. Mensagem na hora errada. Você tomando banho na hora errada.
Homem-erro. 
 Assim te chamarei a partir de agora.
‘’ O que deu o exame?’’
Foi com ela? Com a mocinha da foto? Aposto que sim. Branquinha com cara de morta.
Branquinha e, talvez neste momento que escrevo, já morta.
Covardizinha que não aceitou morrer só.
Vai levar mais três ou quatro Paulinhos pra cova junto com ela.

Mais feia do que eu.
Muito mais feia do que eu.
Ao menos minha cara é de mulher viva.

Não mistura-se barro com ouro.
A beleza só existe se absoluta.

Posso vê-lo falando as mesmas bostas para a menina-cadáver 
As mesminhas.
O mesminho de sempre.
Primeiro tira a calça.
Beijo e sexo oral.
Depois a camisa.
Rir.
Não consegue levar nada a serio. Nem mesmo uma trepadinha. Uma traiçãozinha de uma noite só. Uma noite só rs
Rir.
Ela rir/ Eu já rir também um dia
Já era.
Se riu é porque pode entrar.
Tá dentro
Tá fora.
Tá dentro.
Tá fora.
Tá duro
Tá mole.
Tá vivo
Tá morto.
Uma noite só.
Um restinho de vida.

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