sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O rato



Na mentira característica da penumbra que vem do poste e atinge minha janela, a monstruosa sombra se projeta na parede de meu quarto, movendo-se para lá e para cá. Eu o vejo no muro em frente a janela de meu quarto,o rato!
Move-se de modo silencioso, quase que se escondendo de  algo ou alguém. Nas sombras. Outrora a plena luz, se mostrando corpulento e gordo. Se exibindo como uma musa de Chico Buarque.
Me estico todo a observa-lo.
O rato.
Acendo um cigarro e trago fundo. Ele se move, se posiciona melhor. No canto mais claro do muro. Ele quer me mostrar algo. Quer me mostrar que é mais limpo do que eu sou. Quer me mostrar que seu pelo brilha, refletindo a luz morta que vem do poste.
O rato.
Desaparece.
Eu me distraio com a lua, a fumaça atingi meus olhos. Algo se mexe ...
O rato volta,
atento!
Virado de costas para mim, me ignorando totalmente.
Me provoca, me faz sentir toda a sua coragem.
O rato!
O rato que sai sozinho de seu ninho para caçar seu alimento à noite. Sem frio, sem medo.
E eu aqui no conforto do meu quarto a observa-lo, de longe. De barriga cheia, com um gosto estranho na boca, uma mistura de sundae e MC Donald´s. Sabor de merda. Sabor de merda entregue via delivery. Tudo pago com falsidade, em credito.
Fumando o cigarro que comprei com o dinheiro de meu pai, penso no rato. Penso em como contarei isso para minha terapeuta. Isso me lembra que tenho que pedi dinheiro a minha mãe para pagar a próxima sessão, na quinta feira pela manha.
O rato desaparece.
O rato busca seu próprio alimento. Não tem tempo a perde comigo.
Fecho a janela e apago a luz. Trago a ultima dose de fumaça em meu cubículo abafado. Apago o cigarro na parede texturizada da varanda. Deito-me sem escovar os dentes. Quero saber qual é o gosto de cigarro amanhecido.Alias dizem que há veneno para ratos nos cigarros.


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