domingo, 24 de agosto de 2014

Paulo



Paulo apareceu-me do nada.
Na verdade, conheci os punhos de Paulo primeiro. Um cruzado de esquerda bem abaixo da supercilho direito. Não lembro em qual bar, recordo-me somente que em nosso primeiro aperto de mãos havia sangue entre nossos dedos. Naquele noite fria de Setembro eu e Paulo fizemos nosso pacto de sangue. Nosso pacto de amizade.
Paulo rapidamente tornou-se como um  mestre, eu obviamente, teu discípulo. Tornou-se alguém que apontava-me o caminho. Paulo era mais velho que eu, tinha lá seus 36 anos. Usava óculos e roupas caras. Tocava piano seis horas por dia. Odiava beethoven.
Odiava também Freud e mesmo estando totalmente cônscio desde fato, fazia analise há 15 anos. Paulo adorava chocar as pessoas. Pagava religiosamente seu analista somente para ter um par de ouvidos sempre disponível quando quisesse falar de suas noitadas. Paulo recusa-se a deitar no divã, pois seu único motivo de estar ali era ''vê a cara de espanto do babaca engomadinho''.
''Buceta'' era umas das palavra que Paulo mais gostava no mundo. Soava bem dizia ele. Era uma das melhores invenção da língua portuguesa.
Paulo e eu tínhamos os mesmos gostos: Gostávamos de Whisky sem gelo, sem nada, puro. Double Jack de preferência. Amávamos qualquer mulher. Mas sempre dávamos preferência a algumas. Comíamos qualquer coisa e dormíamos pouco. Líamos os clássicos. Dostoiévski e Cervantes eram nossos favoritos. Jamais ouvíamos musicas ruim. E acima de tudo, Eu e Paulo, fomos empurrados para esse submundo que tanto aprendemos a gostar, por uma fêmea.
Paulo superava tudo melhor do que eu. Nunca vi Paulo triste. Paulo não acreditava em ddepressão. Dizia sempre: ''Uma bela buceta cura qualquer tristeza''. E eu aprendi nos lombos crus de Vanessa que Paulo mais uma vez tinha a razão.
''Nunca fique só'', repetia Paulo quando eu recusava seus convites a sair de casa. ''Sempre há boas brigas a se meter e novos amigos a se fazer por Goiânia''. Sempre o mesmo argumento.
Paulo dizia: Ame todas! Foda todas! Conte isso para elas! Crie intrigas! Corra! O tempo é curto. Ame e destrua o amor. Faça na mesma noite, quantas vezes puder. É melhor o gosto agridoce de sangue na boca como resultado de uma noite mal dormida, do que o gosto amargo da língua pela manha de uma bela noite de sono. Desde Paulo, nunca mais dormi bem. Desde Paulo eu aprendi a amar Goiânia.


Nenhum comentário: