domingo, 13 de julho de 2014

Vanessa




''Não aprendi a dizer adeus/Mas tenho que aceitar/Que amores vem e vão/São aves de verão''
                                                                                                                             Leandro e Leonardo

''J´implore tá pitié,Toi,l´unique que j´aime,/Du fond du gouffre obscur où mon couer est tombé''.
                                                                                                                             Baudelaire

Quem ama merece automaticamente o apedrejamento.

Uma besta.

Um leproso que corrói o mundo pelo simples fato de existir. Que atire a primeira pedra quem nunca amou, poderia ter dito Cristo. Mas Cristo nunca amou. Cristo nunca foi leproso Vanessa. Uma besta, um tolo. Cristo nunca foi nada. Eu sou tolo. Leproso. Eu sou nada.

Cristo nunca soube o que é o amor.

Cristo e Vanessa foram feitos do mesmo barro. Caminham a mesma estrada ruim que levam a caminhos fáceis. A mesma estrada. Sempre.

Eu me perco em todas as esquinas.

Eu que vendi meu piano e quebrei minhas mãos. Eu que estudei Chopim  todos os dias da minha vida. Eu que levo porrada- Prazer em conhecê-la: eu levo porrada. Eu que assumo que sou nada. Mas amo. Eu que sou tolo. E leproso. Eu que vendo minha casa e gasto todo o dinheiro em Valium. E cocaína. Eu que passo 2 meses do ano falando uma língua de merda do norte pelo simples prazer de esquecer que sou brasileiro.
Eu que me apaixonei no México e cheguei a me casar sem que ninguém soubesse. Eu que escrevi uma sinfonia e a dediquei a Beethoven mesmo odiando Beethoven. Eu, Vanessa, que adoraria tocar piano para você. Por toda a minha vida. Adoraria. E ninguém sabe, é um segredo nosso, genau? Todos os dias.

Vanessa, meus caminhos são tortos.

Eu tentei te dizer isso. Mas você não me escutou. Você fugiu.

Quando eu era criança meus pais se separaram. Fiz uma longa viagem com minha mãe. Em Londres ela apontou um rapaz estranho. De batom. E cabelos espetados. ''Ele é cantor de Cure. ''Por toda a minha vida carreguei essa frase: ''ele é cantor de Cure. ''Demorei muito tempo até comprar um disco do Cure e entender que minha mãe estava mais uma vez: certa. ''Ele é cantor de Cure''. E se cantei uma canção do Cure para você é porque de uma maneira certa e estranha eu te amo.

São assim os amantes, Vanessa. Você não vai entender isso. Você não ama. Você não sabe o que é o amor. Você erra, Vanessa. Vou rezar por você e por Cristo. Por toda noite irei bêbado, rezar no corpo de outra mulher por você e por Cristo-Nosso-Senhor.

Eu sou torto, Vanessa. Mas sou limpinho. ''Mor coeur  mis à nu'' é uma divisa, não um corte de cabelo.

Vanessa, vou te confessar mais duas mil coisas: Eu odeio todos os tipos de máquinas. Eu odeio computadores. Eu odeio música eletroacústica. Eu odeio internet. Eu acredito piamente que  o Facebook é a coisa mais estúpida criada pelo homem depois da igreja e da camisinha em pó. Vanessa, eu entrei nessa merda apenas para te falar ''oi''. E você respondeu:''oi''. Sinceramente, eu preferiria ''vá tomar no cú''. ''Vá à merda''. Foda-se, filho da puta''. ''Vá para a puta que te pariu''. Mas ''oi''? Não, não tenho paciência com isso. ''oi '' para você também, Vanessa. Enfie fundo na tua alma o teu ''oi''.

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