“Voici le temps
des Assassins.”
Rimbaud
Sylvia era tão bonita. A primeira vez que
a vi nua fiquei comovido. Misticamente estupefato. Momentos assim sempre me
fizeram acreditar na existência de Deus-Nosso-Pai.
Deus habitava aquele corpo. Deus criou
aquele corpo. Deus morava dentro da boceta de Sylvia.
Não Jesus-Bebezinho-O-Messias, mas
Deus-Ele-Mesmo-Em-Pessoa morava ali.
De Ave Maria, Sylvia nunca teve nada.
Acho até que Sylvia nunca foi virgem. Sylvia nunca poderia ter um filho, e
muito menos um, barbudo, psicótico, e que se achava filho de Deus-Nosso-Senhor.
Já tive vontade de engravidar Sylvia. Uma
vez estávamos fodendo, felizes-tristes, noite adentro. Ela de quatro. Aquela
bundinha desenhada pela colisão das estrelas. O cu me olhando de soslaio. Deus
abraçado àquela bunda. Perguntei se poderia gozar dentro dela. Ela disse que
não, a não ser que eu quisesse engravidá-la. “Goze fora”.
Não consegui gozar. Acho que nunca mais
consegui gozar depois dessa noite.
Eu toparia ser o pai de Jesus. Se Sylvia
me tivesse pedido, daria Jesus a ela.
O corpo de Sylvia era isso. Aqueles
peitinhos eram o rosto de Deus.
Sempre achei que Deus tinha a cara de
dois peitinhos.
“Você é linda. Você é maravilhosa.”
Ela responde com um movimento dos lábios.
“Seus peitos são lindos, são perfeitos.”
“Ah, sei. Este é menor do que este”, e
aponta para o seio esquerdo. Logo aquele que continha a maior parte do rosto de
Deus. Aquele com o poder de destruir a vida na Terra. Aquele.
Nunca entendi Sylvia. Quando lembro dela
sinto uma fome incontrolável por hóstias.
Uma vontade de ver padres estuprando
freiras, de enfiar os tubos do órgão nos cus dos fieis, de afogar os recém
nascidos na água benta, de urinar na boca de Santo Agostinho. Sinto a vontade
de ter meu próprio Lager e rebatizar todos os católicos em uma imensa banheira
de Ziklon B.
Não se enganem, sou um homem bom.
Simpatizo com os vegetarianos e os veganos. E também simpatizo com as cotas. E
com os ambientalistas. E com a
igualdade entre homens e mulheres. E com o casamento homossexual. Não
que eu defenda essas coisas, mas sou gentil quando falam delas à mesa que
habito, chego mesmo a apoiá-las com um sorriso gentil.
Sou igual a você.
Você se acha um homem bom. Honesto. Fiel.
Amigo. Cristão.
Sou igual a você. Sou capaz de cometer
todos os crimes do mundo. Todos. Somos iguais. Não se iluda. Somos dois
monstros. Você e eu. Você que me lê. Eu que me escrevo. Eu.
Eu e Sylvia. A quem desejo o pior.
Sylvia. Sylvia. Ave Sylvia. César
ajoelha-se aos teus pés.
Sylvia poderia ser tão bonita.
Eu matei Sylvia em uma tarde de inverno
em Goiânia. Não estava frio e o sol estava claro. Numa tarde de inverno em
Goiânia Sylvia morreu. O corpo foi exposto e os passantes prestaram suas
homenagens.
Em uma tarde de inverno...
“...voici que cela finit par des
anges de flamme et de glace”.
*trecho de “Homem trancado em quarto de hotel”
Um comentário:
pesquisarei sobre esse cara
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