domingo, 30 de março de 2014

Deus ou A noite de ontem


Quando você se ajoelha perante mim e roça na garganta o único e verdadeiro Deus que existe, sinto que o mundo é somente meu, sinto que Deus não é outro, se não este em que você toda devota, de joelhos, se esforça, e quase rasga a própria boca para engolir.
Enquanto você me chupa, subitamente me recordo que há milhares de anos, antes de qualquer antes imaginado, eu arranquei-te de mim. Definhei lentamente meu corpo. Cravei minhas unhas sobre minha pele, até arrancar-me uma costela inteira. Mutilei-me todo para ter fazer presente aqui esta noite, me sangrei sobre barro cru, só para tê-la assim, de joelhos. Rezando noite sim, noite não, para este Deus que carrego entre as pernas.
Dei uma costela minha em oferenda ao meu prazer. Fiz-me seu único e verdadeiro Criador. Ordenei-te um mandamento maior, uma ordem soberana. Que me amaste sobre todas as coisas.
Destruir e reconstruir o mundo. Preguei meu filho em cruz, unicamente para livraste de teus pecados.
Fiz e refiz o infinito. Fui verbo.
Me tornei sobre duras penas, eterno.
Só para tê-la aqui esta noite, me esfregando inteiro contra tua garganta.
Como diria Drummond, ’’Nunca pensei ter entre as coxas um Deus’’.


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