sábado, 4 de julho de 2015

Beatriz


                                        

’Todo o fantasma, toda a criatura de arte, para existir, deve ter o seu drama, ou seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é personagem. O drama é a razão de ser do personagem; é a sua função vital: necessária para a sua existência’’.  (Luigi Pirandello) 
 
‘’E pra quem vive há esperar que amor caia do céu... Só a chuva vai cair’’. (Lucas Maia)



Beatriz, você sabia que eu não consigo ficar sozinho em casa sem assistir pornografia? Sabia que se fosse possível, eu assistiria pornografia em qualquer canto, em qualquer hora que me desse vontade? E eu Beatriz, sinto vontade sempre.
Meus amigos perguntam-me o porquê dê eu não possuir um smartfone em tempos de comunicação instantânea, de what´sapp e o caralho à quatro, e minha resposta é sempre a mesma. É sempre humana e bonita: ''não tenho smartfone porque gosto de conversar com as pessoas olho no olho''.
É mentira Beatriz. É a mais tola e rotineira mentira que conto. Não posso ter um smartfone porque se o tivesse não faria outra coisa a não ser vê pornografia e me masturbar o dia inteiro. Na faculdade, na casa de amigos, no ônibus, nos banheiros públicos dos terminais, em qualquer lugar Beatriz. Eu me masturbaria em qualquer lugar se tivesse  na palma de minhas mãos acesso a seios, bucetas e pernas.
Eu amo pernas Beatriz.
Sou louco Beatriz. Louco e fanático por pernas. E amo sobretudo as suas: Brancas, pequenas, levemente tortas na altura dos joelhos.
Ontem eu me masturbei durante o banho Beatriz. Com minhas mãos meladas de condicionador de frutas cítricas. Usando o condicionador de minha mãe e pensando em suas pernas para ''ter inspiração''. Eu não tinha muito para me ''inspirar''. Nunca vi sua buceta, e só toquei seus seios por cima da blusa.
Você se lembra Beatriz? Se lembra do dia em que toquei seus seios? Você conduziu minhas mãos enquanto nós nos beijávamos no bosque dos buritis, meio sentados, meio deitados na grama, ali pertinho do lago. Diga, você se lembra? Era domingo, Beatriz... Você se lembra de como eu estava feliz aquele dia? De como por mais ou menos duas horas, eu não parei de sorrir? Se lembra? Era Domingo e eu estava feliz...  E tudo aquilo por ter tocado teus seios. Tudo aquilo porque finalmente, depois ter desistido de você mais de um milhão de vezes, eu te beijei.
E hoje Beatriz, eu te confesso: sou um monstro.
E você é uma covarde.
Você que sempre repete que, eu não poderei estar sempre com você, que eu não te amo de verdade, pois  só conheço e amo a Beatriz que eu mesmo inventei para me satisfazer. Que eu não sei da Beatriz depressiva, que quer morrer de tempos em tempos. Da Beatriz que  só se dar bem com livros, e que não consegue ser sincera em nada que faz na vida: A Beatriz que fingi amar, que fingi sorrir, que fingi orgasmos, que em suma, fingi viver. Que faz jus ao nome, que é atriz. A Beatriz que é (e que sabe que é), umas das mulheres mais bonitas de Goiânia, umas das mulheres que levariam um homem a fazer qualquer coisa por ela. Você Beatriz, se assim quisesse, poderia ser rica, ser famosa, poderia destruir casamentos, ser a outra. Poderia ser aquela que goza enquanto a outra cozinha. Poderia ter tudo e quem quisesse ter. Você é bonita Beatriz, e ser bonita em Goiânia é poder ser o que se quiser ser. E você Beatriz, me diz que quer ser depressiva?!
Pois saiba Beatriz que eu não tenho a menor paciência com depressivos. Não tenho paciência com quem chora sozinho no quarto. Nem com quem sofre lendo Clarice Lispector. Não tenho paciência com vegetarianos que, não comem carne por ''amar todos os animais de forma igual''. E muito menos com quem compartilha foto de gatinhos no facebook. E você Beatriz,é um pouquinho de tudo que odeio no mundo.
Mas eu me trairia por você Beatriz. Eu me tornaria melancólico, seria vegetariano, e teríamos uma fazendinha em Itumbiara. Uma fazendinha cheia de gatos.
Beatriz, eu leria Clarice Lispector pra você chorar todas as noites de sua vida. Beatriz, eu leria pra você chorar todas as noites...
Mas eu não posso fazer isso Beatriz, simplesmente porque você acredita ser uma mentira que criei.
Mas ao menos eu me masturbo pensando em suas pernas.
E você o que faz?
Você chora Beatriz. Você chora. Você não bebe, não fuma, você não bate nem ao menos uma punhetimha, Beatriz. Nem uma siririquinha sequer.
Você chora.
Eu, Beatriz, estou tentando gozar nessa merda de vida.
Eu, Beatriz, estou tentando ser cada dia melhor. Esforçando-me para não vê mais cenas grotescas de sexo, para não trocar mais porradas com meu pai, para não roubar mais os remédios de minha mãe. Eu, Beatriz, me esforço todos os dias para que você saiba que eu te amo.
E desde ontem Beatriz, eu não acesso o pornhub. Desde ontem, que suas pernas me bastam.
E assim a vida segue, Beatriz. Eu querendo você e você chorando.

Viva lá Vida Beatriz (e me leve junto)  https://soundcloud.com/sofia-freire/viva-la-vida

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